quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Procura-se gabarito

Sempre me perguntei pra que se vive, afinal. Quando eu era criança achava que eu vivia porque assim meus pais queriam. Me colocaram no mundo, me deram de comer, me compraram tiaras de cabelo que combinavam com o vestidinho. Me muniram de brinquedos e de alertas. O mínimo que eu podia fazer por eles era seguir respirando, acordando, passando fio dental, indo ao banheiro pelo menos depois de comer iogurte de ameixa.

Depois, quando eu era adolescente, achei que a gente vivia para gostar de alguém. Se tivesse ao menos um garoto bonitinho na escola, valia a pena acordar cedo. Se tivesse ao menos um garoto bonitinho no inglês, valia a pena abrir mão da sonequinha da tarde. Se tivesse ao menos um garoto bonitinho irmão de uma amiga, valia a pena encher o saco da minha mãe para dormir na casa da amiga. Só podia ser isso! Ou se vive pra estudar matemática? Geografia? Comer legumes? Não podia ser. A única coisa que podia ser, era viver pra sentir o coração disparar por qualquer garotinho bonitinho. De preferência um que tivesse cabelinho loiro ou covinhas na bochecha.
No final da adolescência, eu comecei a achar que se vivia pra ser alguém. Entrar na faculdade. Arrumar um emprego. Ser alguém. Entrei na faculdade com 2546486 anseios, inclusive o de ser alguém. Porque ser alguém não tem nada a ver com essa vontade desesperada de ser alguém. E continuei sem saber afinal para o que se vive. Porque a faculdade e o deslumbre com os primeiros dias de "minha-vida-de-responsabilidade" são espaços curtos demais para uma vida inteira. Não se vive exclusivamente pra isso. Também não se vive pra pegar trânsito, ter um chefe que tira uma vírgula sua e coloca em outro lugar só pra mostrar que é seu chefe. Não se vive pra bater cartão e fazer compras com Visa. Definitivamente não se vive pra isso. Vive-se para salvar as criancinhas, o planeta, os animaizinhos, os aposentados, as árvores, as praias, as formigas? Não, não se vive pra mudar o mundo, o bairro, meu quarto. Porque a gente não muda nem o jeito de escovar os dentes. Essa é a verdade.
Daí achei que vivemos para fazer o que gostamos e ponto final. Como se fosse uma missão para a qual Deus nos enviou. E a minha era escrever, escrever, escrever. Tudo. Eu vivia para ter sucesso nisso. Escrever, faculdade, sonhos, futuro. Mas pra quê? Pra quem?
Aí achei então que se vive para as pessoas. Se você tem dez pessoas de quem gosta muito, taí um motivo para se viver. E eu gostava mais ou menos disso: de dez pessoas. E vivia para isso. Para no final do dia tomar um mate com uma dessas pessoas e brindar o mistério que é não saber pra que se vive. E eu e minhas dez pessoas viveríamos bem até os últimos dias...Mas não é bem assim que funciona, vocês sabem. As pessoas casam, mudam de país, resolvem ficar chatas, resolvem te achar chata, resolvem não tomar mais mate. Infelizmente não se vive para as pessoas. E quanto mais os anos passam mais você descobre que as mil pessoas maravilhosas viram cem que viram dez que viram duas. E essas duas são insuportáveis, mas são as que sobraram. E você intercala as duas pra não se irritar em dobro.
Ahhh tudo é tão chato, não é mesmo? Foi então que descobri que talvez se viva para dormir. Uma cama gostosa, colchão bom, almofadas. Dormir, dormir, dormir. Para nunca mais pensar pra que se vive. E quem disse que dá certo? Eu sonhava toda noite que percorria o mundo atrás da mesma pergunta. E sonhava com velhos sábios, meus coleguinhas do primário, minha professora de História, meu avô, um rato morto, um assaltante, a novela das oito, sei lá. Eu percorria o mundo atrás da resposta. E acordava cansada e com mais sono. Esse negocio de dormir não resolve o problema de ninguém.
E segui procurando. Talvez a gente viva pra conhecer o mundo, pra andar numa motoquinha em Paris, pra ouvir todas as músicas lindas, pra ler todos os livros bons, pra pagar os pecados, pra dançar, pra quebrar o pau com todo mundo, pra ser superficial ou leve e adorar todo mundo como se fosse possível viver em paz aceitando todos e sendo aceita. Pra malhar a bunda, pra chorar num concerto no Teatro, pra comer um doce, pra ver o Wagner Moura com seu groovie , pra assistir “P.S. I love you”, pra cudar do meu bichinho de estimação, pra olhar ele pela última vez que nunca é a última vez e chorar pela última vez que nunca é a última vez. Tudo isso? Nada disso? E segui procurando.
Então pra que? Pra quem? Por que? Por que acordo todos os dias? Se eu sinto prazer em escrever é para que alguém leia. Alguém que certamente vai me magoar um dia. E vai embora. Se eu ganho dinheiro é para comprar coisas que um dia vão acabar. Se eu rezo é para ter uma paz que daqui a pouco vai embora. Tudo vai embora. Todos vão embora. Se tudo acaba, então, meu Deus, pra que se vive? Pra que?
E nessa de tanto perguntar e querer o real gabarito, não é que descobri. Eu acho, de verdade, do fundo da minha alma, que se vive única e exclusivamente para se viver. E afinal, que graça teria viver sem o inesperado, a incerteza e a curiosidade?

12 comentários:

Anônimo disse...

olá Fabi
li seu texto e gostei
mto bom, de verdade, parabéns

Melissa Resch disse...

Viver eh exatamente esse questionamento.
Sentir-se vivo!
Parece clichê, mas quem disse que é fácil sentir-se realmente vivo?
O prazer de cada respostas - que nunca se tem certeza se eh a real - é o que faz valer o pensamento, e buscar tudo isso eh o sentido!
Essas respostas nos fazem bem pq nos descobrem, aliás, quer coisa mais complexa q o ser? o próprio ser? A minha felicidade é questionar e descobrir as respostas, e se viver bem eh o objetivo, viva as descobertas!
Excelente texto guria, não imaginava q escrevesse tão bem, bem-vinda ao mundo blogueiro, tem altz boas coisas por aqui!
Beijo

Unknown disse...

Oi comadre blz, muito bom esse texto, me fez refletir durante alguns instantes.

Maurício Paixão disse...

Viver para salvar as árvores e mudar o mundo, sim! Heuehueh! Muito bom o texto, me fez refletir bastante também. É interessante essa análise de que para cada fase da vida se vive para algo diferente e, quem sabe, isso pode ser uma alternativa no gabarito.

Ricardo disse...

Fala fabinhaaaa, tu que acha, sempre dei o ar da graça...Estou sempre ligado nas novidaders dos meus colegas blogueiros. Mas quanto ao título do Blog " Eu não queria um blog" é ótimo, imagino que várias pessoas já chegaram no seu msn e pediram: Se tu não queria um blog porque o fez?
Acredito que a resposta possa ser chata quanto a obrigatoriedade de se fazer um blog. Escrevo isso sem muito nexo, mas, só para me posicionar em sua direita e colocar o meu Blog no seu título, pq eu também não queira um blog!!!
E tenho dito!

Vou te add nas minhas atualizações e no meu blog!

Beiju!

Tássia disse...

Fabii!
Muito bom teu texto.
Realmente, a gente vive na incerteza, na dúvida, mas a vida é mesmo isso, e como você bem disse, a graça está aí, no inesperado!

"Vamos viver tudo que há pra viver..."

beijos

=D

Anônimo disse...

Fabi, daqui alguns anos eu vou estar passando por qualquer livraria do futuro e encontrarei em um dos expositores de destaque, um livro seu.

Impressionado, pegarei meu cartão de crédito do futuro e comprarei o seu livro. Na hora de pagar, farei apenas um comentário com a atendente (ou maquina de pagamentos, do futuro) "Eu fui orador da turma com ela". HAUEhuaehua

"Pagação de pau" a parte, ótimo texto, ótimo blog! parabéns!

Daniel disse...

talvez não exista um motivo pra se viver. a gente é que precisa e fica procurando um. e por isso encontramos vários e não nos decidimos, he. vai saber, né.
muito bom o texto e o blog, Fabi. voltarei.
beijo!

Unknown disse...

Texto forte. Muito, muito, muito bom mesmo Fabi.
Vai para seu portfólio, com certeza. Mas para que ter um portfólio e voltar ao ciclo? rs
É isso mesmo, vamos viver para viver e não viver por viver.
Beijão

mari disse...

Bah,até me arrepiei com o que tu escreveu,baita post.
Até me indentifiquei com certas coisas que eu tbm geram dúvidas.
Enfim,vou me tornar uma leitora mais presente em seu blog.
Beijo Fabi!

Anônimo disse...

Fabi
minha priminha q adoro...
adorei o texto...

me fez refletir bastante sobre a vida....
a duvida "qual o sentido da vida?"

parabéns....
a Jornalista da família

a.l.lopes disse...

eu num sabia que além da mais bonita da ílha fosse também a mais poetisa!...Tu é foda guria!