Quando os brinquedos, as bonecas e as brincadeiras não representam nada além de lembranças (meigas lembranças!) e nostalgias.
Quando o chiclete de bola perdeu o gosto e o algodão doce não tem mais sabor de nuvem.
Quando o arranhão no joelho não passa com um colo de mãe, a dor de ouvido não sara com um chocolate, e o pior, quando as dores são muito mais interiores e não partem de um tombo de bicicleta.
Quando o Doug Funnie e o Fantástico mundo de Bob não são mais a programação de todas as manhãs.
Quando A Pequena Sereia virou tubarão, quando o sapatinho da Cinderela não serviu mais.
Quando a infância virou passado.
O balanço no quintal da casa da minha avó já não existe mais, talvez porque as crianças que por gerações se embalaram nele agora tenham tamanho e peso demais que as cordinhas não mais suportem; a velha bola de futebol que reunia a turminha na rua de casa agora diverte o cachorro, talvez porque os pés que um dia a chutaram hoje tenham perdido a inocência e adquirido força demais; a lousa que dava aulas de mentirinha para a minha irmã se perdeu, não sei se entre as velharias ou no tempo que correu depressa demais; a bicicleta cor-de-rosa de rodinhas agora enferrujada não carrega mais nenhuma menina moleca nem a derruba pelas ruas afora; o pega-pega já assumiu um sentido muito mais malicioso do que a velha brincadeira em que um corria atrás dos outros.
O tempo passou e eu não sou mais criança. Talvez até seja, mas é a vida que não me permite mais ser. As medidas aumentaram (tanto pra cima quanto pros lados!), o pé cresceu, comer doce agora engorda, chorar agora é muito mais que manha, dormir agora é muito mais que descanso, estudo agora é muito (e muito!) mais que responsabilidade.
A minha mãe, agora a mais de 300Km de distância, não vai acordar para me cobrir se as cobertas caírem no chão durante a noite, tampouco preparar um chá se uma dor de cabeça bater; o meu pai até me pega no colo, mas não agüenta por muito tempo; a minha irmã (ah, a minha caçulinha!) já quer ser independente e já tem tpm. E eu? Eu sinto saudades do tempo em que era legal ter um metro e meio.
Eu cresci, eu queria crescer. Mas é sempre assim, quando se é pequeno, se quer ser grande; quando se é grande, se quer voltar a ser pequeno. Tudo em vão, o tempo não respeita nada nem ninguém. Ele simplesmente passa.
E agora eu sou uma criança grande. Que, muitas vezes gostaria de voltar pro aconchego de casa, pro recreio do colégio, pro colo de mãe. Mas a vida não deixa, a implacável vida e o irredutível tempo, sempre a postos, me lembram de que a vida é feita pra ser degustada fase a fase e que, se a infância foi boa, que bom, virão boas lembranças.
Mas que a vida não me tire - quando eu sentir saudade – a inocência, a molecagem, a graça, o paladar para guloseimas, o melhor colo do mundo dos meus pais, as lágrimas bardosas e a peraltice que só uma criança pode ter. Que a vida me permita ser criança, mesmo que por alguns minutos, quando eu sentir vontade.
Passem os anos, venham as seriedades, mas que nunca esmoreça, dentro de nós, ♫ a nossa velha infância.
Hoje é dia das crianças e a saudade do tempo que eu era criança bateu agora, não sei se por causa do clima melancólico do fim de domingo ou por causa das repetições na televisão e na rua pela passagem desse dia. O fato é que bateu uma lembrança tão real agora que resolvi registrar, e eu queria chorar agora também, mas só se fosse no colo da minha mãe.
Beijos com sabor de pirulito :)